Sorvetes e picolés baratinhos – e deliciosos. Doce de araçá-pera feito no tacho de cobre. Leite de saquinho. Biju. Vassouras da pura palmeira piaçava. E muuuuito conhaque da alcatrão, o “conhaque do Milagre”… Tudo produto legítimo, importado diretamente da foz do Paraíba do Sul para o coração de Copacabana. Isso e muito mais a gente encontra no inusitado, simpático e feericamente iluminado Empório Sanjoanense: a embaixada da cidade de São João da Barra, do litoral Norte Fluminense, na capital carioca.
É verdade que, visto de fora, parece uma sorveteria. Também pudera: um dos artigos de exportação mais famosos de São João da Barra são os sorvetes N.Silva – criados 40 anos atrás por uma modesta dona de casa que produzia sacolés para complementar a renda familiar -, e que hoje são uma potência da indústria culinária do Norte Fluminense.
Quem frequenta a orla de Atafona conhece os famosos carrinhos de sorvete N.Silva…. São mais de 40 sabores, alguns inusitados, como jaca, chiclete e abacate, com uma qualidade surpreendente. A fama só não é maior do que a do Conhaque de alcatrão São João da Barra, filho mais nobre da linhagem de bebidas populares da fábrica Thoquino, responsável também por outros clássicos da tradicional boemia popular brasileira e de jingles classicos da nossa propaganda, tais como a Aguardente Praianinha (“Seeempre cai bem…”), Vodka Kovak (“Eu sou você… amanhã”) e Xiboquinha (“Beba com moderaçãozinha…”), entre outros menos cotados.
A ideia genial de trazer um pedacinho do Litoral Norte para o Posto 4 de Copacabana foi do empresário sanjoanense Anderson Luis, o Pimpolho, e sua esposa Tamara Castro. Dono de negócios na região de Campos, Pimpolho vem regularmente ao Rio há mais de 20 anos. E sempre chamou sua atenção a voracidade com que conterrâneos seus, expatriados do litoral norte na cidade maravilhosa, sentiam falta dos produtos de sua terra natal – e que por isso ele vivia trazendo para cá na mala do carro. Daí para a ideia de abrir uma loja sãojoanense carioca, foi um pulo.
“Quem é de São João da Barra não vive sem os “Doces Tradição”, sem os sorvetes N. Silva, sem a goiabada cascão do Milton Pomada nem o doce de caju com castanha da Dona Lizete”, lembra Pimpolho, puxando pela memória apenas os mais lendários de um corolário imenso de nomes e produtos típicos disponíveis na sua loja, vindos diretamente da pequena cidade portuária de menos de 40 mil habitantes, antigo distrito de Campos, e que também gosta de ser conhecida como dona do melhor desfile de carnaval do interior do Estado do Rio.
Mas apesar de o desejo ser antigo, foi só mesmo agora, em fevereiro de 2024, que Pimpolho e Tamara conseguiram realizar o sonho de abrir o negócio, que em breve eles querem transformar também num centro cultural de São João da Barra. Tudo com a ajuda da experiência do gerente Avelino Barcellos, soãojoanense por escolha e ex-sócio do lendário Bar da Foca, na Rua Farani, e do designer Ralph Peixoto, um expatriado sanjoanense em Copacabana que faz as vezes marketeiro, relações públicas e, sobretudo, cliente número 1 das delícias nortistas do lugar.
“Não é brincadeira não: tem gente que chora quando vê que a gente tem sorvete N.Silva, biju, araçá-pero e caipitanga”, diz Ralph, incluindo aí na lista a bebida popular nos blocos de carnaval da cidade, feita de vodka (Kovak, claro…) com polpa de pitanga, fruta típica da região. “A tradição da caipitanga só perde mesmo para o conhaque batido”, acrescenta Avelino, fazendo referência ao coquetel secular que marca a tradição etílico-farmacológica da região, formado por uma mistura tiro e queda de mel, limão, laranja e… Conhaque de Alcatrão São João da Barra.
E para você, caro leitor, que ainda desconfia se o Empório Sanjoanense é mesmo um bom lugar para beber e beliscar, lembro que a casa oferece também a carta completa de rótulos da excelente cerveja Denker, marca premiada que foi recentemente adquirida pelo grupo Thoquino. Diz que vai muito bem com biju e araça…