Torresmo nunca é demais, já dizia a minha avó. Torresmo é vida, já dizia a minha tia (adiantando em uns 20 anos a hoje conhecida frase em homenagem ao bacon). Então eu, vindo de e vivido em uma família que aprecia o porco em todas as suas partes, das altas às baixas, “dospeszazorêia”, fui na semana passada corrigir uma grave falha curricular: conhecer o Rei do Torresmo, o famosíssimo bar do seu Geraldo Teixeira, que já foi um dia a mais importante atração turística da pacata cidade de Piraí, no Vale do Paraíba.
O torresmo do seu Geraldo é uma instituição. É aquele de barriga, carnudo, pururucado na banha, saboroso que só o mel, feito pra comer aos centos com muito limão, muita cerveja, alguma cachaça e quilos de guardanapo. Desde o século passado, e até o começo dos nossos anos 20, ir a Piraí e não visitar o Rei do Torresmo era como ir a Roma e não ver o Papa.
Por pouco, porém, não dei com os burros n’água. Pois ao chegar, fui informado de que o bar, em seu endereço clássico no centro da cidade, já não existe mais. Ocorre que o Rei do Torresmo sofreu com a Covid. Em 2021, Seu Geraldo e a esposa, dona Irene, ficaram muito doentes. E o bar também, vazio de clientes. Veio a dificuldade financeira, e Seu Geraldo fechou o bar. E aí ficou pior: sem o bar, veio a depressão, o vazio existencial.
Mas aí vieram também os anjos… O primeiro foi o irmão, seu Luis Antonio, dono de um restaurante nas cercanias da cidade, que no ano passado chamou seu Geraldo para voltar à ativa, ocupando uma casinha modesta no estacionamento do seu negócio. Lá ele retomou a produção não só dos torresmos, mas também dos bolinhos, um mais delicioso que o outro.
Assim, pouco a pouco, o Rei do Torresmo vai voltando a atrair a velha clientela, num processo ajudado pelo segundo anjo dessa história: o ex-governador Luiz Fernando Pezão. O piraiense mais conhecido do Brasil é fã de primeira hora do Rei do Torresmo. Em suas mesas, Pezão já fez reunião de gabinete, festas com correligionários, eventos de campanha com prefeitos de outras cidades. Até o presidente Lula já sentou ali, em seu segundo mandato, nos tempos áureos do botequim. A intimidade com o bar era tanta que muita gente chamava o lugar de “Botequim do Pezão”. E agora, nesses novos tempos mais bicudos, o ex-governador faz questão de levar quem o visita em sua cidade para uma esticadinha na nova casa, localizada já no começo da estrada que leva para o município vizinho de Barra do Piraí.
“Frequento o Geraldo desde os tempos de vereador, nos anos 80. Nem conhecia a Maria Lúcia e já comia esse torresmo”, diz o ex-governador, referindo-se à sua esposa, ex-primeira dama do Rio e profunda conhecedora de cachaças artesanais. Atual pré-candidato à prefeitura de Piraí, cargo que já exerceu por dois mandatos, Pezão faz troça – mas com um fundinho de verdade – ao prometer colocar o bar na sua plataforma de governo: “Se eleito, trarei o Rei do Torresmo de volta para o centro de Piraí”, diz o pré-candidato, entre risos e copos de cerveja, sentado numa das mesas arborizadas do pequeno bar, hábito que ele exerce quase toda semana. À sua frente, dúzias de torremos fumegantes, servidos nos tradicionais porquinhos de cerâmica que são a marca da casa. E ao lado, uma descoberta feita por mim ao acaso, mas que me impressionou muito: os bolinhos de carne feitos com massa de jiló. Estão entre os petiscos de boteco mais espetaculares que já comi na minha vida.
Por esses bolinhos, pelo torresmo e pela história marcante do seu Geraldo, vale muito pegar a estrada. É logo ali, de quinta a domingo. O Rei aguarda por seus súditos. E, com sorte, você ainda encontra um ex-governador…