Eles vieram ao mundo no mesmo dia: 25 de março. Só que com dez anos de diferença. Nem um nem outro, diga-se, nasceu em berço de ouro. Aliás, nem de prata e nem de bronze. Muito pelo contrário. Mas, cada um à sua maneira, ambos escolheram percorrer as trilhas da gastronomia para vencer na vida. Estão conseguindo.
Um quis ser bartender e foi morar na Europa. O outro um dia precisou trabalhar como carteiro para superar a pandemia. Um viveu por nove anos em Portugal, gerenciando bares e restaurantes. O outro morou um tempo na Alemanha, e aprendeu a ser açougueiro.
O tijucano João Holanda, 31, e o banguense Rodrigo Tavares, 40, sequer se conheciam quando, em 2022, começaram a trabalhar no projeto de um novo restaurante, em Copacabana. Bateram perna juntos pela cidade, procurando possíveis endereços para o novo empreendimento.
E tornarem-se amigos. E acharam o ponto, no Posto 6. E alugaram a loja. Mas quando os outros sócios pularam fora e o negócio deu errado antes mesmo de começar (é raro, mas acontece muito na gastronomia da cidade…), os dois se viram inexoravelmente unidos. Não só pelas afinidades, mas também pelo contrato de aluguel, que estava em nome deles. Eram inquilinos de uma loja na quadra da praia de Copacabana, mas não tinham mais um restaurante pra botar lá dentro….
Com pouquíssimo dinheiro no banco, reputações em risco e alguma experiência profissional acumulada, os dois decidiram assumir o B.O. Em menos de três semanas, transformaram o projeto de restaurante chique num pé-sujo espartano: nascia aí o Baixela, hoje um dos botequins mais populares da Zona Sul.
A trajetória até o sucesso de hoje foi dura. Primeiro, porque abriram o negócio na marra. Conceberam o cardápio e o ambiente muito mais pela necessidade de sobreviver do que por desejos autorais. Improviso puro. Ou dava certo, ou ambos quebravam.
E acontece que deu certo. Muito certo. A tábua de salvação virou sonho sendo realizado. Em apenas dois anos, Rodrigo e João transformaram um botequim sem logotipo, sem conceito, sem decoração, com móveis improvisados e sem influencers nas redes sociais num novo ícone da gastronomia popular contemporânea carioca. Um bar aparentemente “de velho”, tocado por dois jovens chefs apaixonados pelo que fazem, com um cardápio simples mas original, e frequentado por gente de todas as idades.
O menu de comes e bebes criado pela dupla espelha a trajetória de vida de ambos: petiscos de inspiração ora portuguesa, ora alemã, ora 100% brasileira, ladeados por batidas que já andam famosas na cidade e cerveja muito gelada. Um dos fetiches dos frequentadores mais fieis é o balcão refrigerado, sempre lotado de conservas: de mexilhão, de cebola ao vinho, de alho, de pimenta de cheiro e de batatas calabresas, entre outras tentações botequeiras, que volta e meia fazem alguém comparar a casa com a mais famosa e quase vizinha Adega Pérola.
Mas o item mais popular do menu vem mesmo é das fritadeiras. É o tal do “Pau Carnudo”. Primeiro pelo nome, instigante e divertido, que reflete um pouco a filosofia libertária do lugar, desperta a curiosidade de clientes de todas as identidades de gênero e ajuda muito na divulgação do bar. Depois, pelo sabor, formato e consistência: um imenso e fálico croquete de carne misturada com queijo e bacon. Feito com insumos de qualidade, inspirado numa receita original lá de Aracaju, o “Pau Carnudo é diferente de tudo o que se encontra neste paraíso de bolinhos e croquetes que é o Rio de Janeiro. Uma delícia só comparável, a meu ver, com o “Feioso”, o bolo de carne em estilo alemão do Real Chopp, bar clássico de Copacabana.
E veja só você, caro leitor: graças ao “Pau Carnudo”, às conservas, aos pratos feitos no capricho e ao clima original e despojado da casa, fato é que o Baixela foi eleito o melhor pé-sujo da cidade no ano passado, segundo os jurados do festival Rio Gastronomia, organizado pelo jornal O Globo.
O segredo dessa popularidade tão meteórica do Baixela? Certamente passa pela sua despretensão. O lugar é tão simples que facilmente provoca aquela sensação de pertencimento reconfortante, que faz a gente se sentir na esquina de casa, mesmo que moremos bem longe dali. No mundo dos bares populares, o valor dessa percepção de pertencimento muitas vezes supera o do conforto, do serviço e da própria gastronomia. Segredos de botequim carioca, que o Baixela soube absorver como ninguém.
Pra quem gosta de um bom boteco pé-sujo como você, caro leitor (não gostasse, certamente não teria chegado até aqui neste texto…), o Baixela (@baixela.rio) merece te pertencer também. E quando for, vá de sunga, tá? Dá tranquilo pra pedir uma comida, ir ali dar um mergulho e voltar a tempo de ver o prato chegando fumegante na mesa.
Baixela:
Rua Rainha Elizabeth, 85, Copacabana
Ter a qui – 12h às 21h
Sex e sáb – 12h à 00h
Dom – 12h às 20h
@baixela.rio